quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Conto de Fadas



Era uma vez, um nariz que se apaixonou por um pescoço e um pescoço que enlouqueceu de paixão por um nariz. E quando, por fim, os dois se uniram no contato mais sublime, surgiu o arrepio. Como uma onda faminta a devastar a superfície da pele.

Era uma vez uma boca que caiu em graças por um sorriso e um sorriso que se exaltou por uma boca. E quando o sorriso transformou-se na mordida que assinou o vermelho dos lábios surgiu o desejo. Como um incêndio a consumir o intimo da alma e assassinar a razão.

Era uma vez um par de olhos que se extasiaram por uma canção e uma canção que se perdeu no profundo dos olhos. E quando a canção se tornou mais pujante que o sol constrangendo os olhos a se fecharem e nublarem em emoção surgiu a chuva. Como uma tempestade enlouquecida a evadir-se pela esquina dos olhos, querendo ser artifício da doce melodia.

Era uma vez um coração que se apaixonou por outro e o outro que se perdeu de amores pelo um. E quando, fatalmente, o latejo de ambos transformou-se num singular ritmo surgiu muito mais do que arrepio, o desejo mais intenso ou a tempestade mais possante. Surgiu Universo! E como a própria explosão milagrosa e espantosa das estrelas, a luz do universo elevou os corações a algo muito além que qualquer compreensão humana e mística... Onde beijos foram empalhados e emoldurados, onde as palavras delicadas exalam perfumes irresistíveis e abraços brancos encobrem e protegem de tempestades.

Era uma vez duas histórias que esquecerem a razão de não ser apenas uma.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Carta



Não quero limpar as teias de aranha da minha cabeça.

O Tempo as destruirá, eu aposto.

Então, se você me ouvir dizer que ainda acredito no amor, não me faça sentir envergonhado.

Eu costumava cantar as mais tristes canções enquanto os demônios escalavam minha porta em direção ao meu cadáver-vivo encolhido no canto de tudo.

Eu costumava ler as mais lindas historias de amor e tentar acreditar nelas para sobreviver enquanto meu mundo desabava, cheio de vidas jogadas ao desperdício.

Vidas minhas.

Mas aqui estou eu com oito vidas mais.

Estou pronto para me permitir os novos bons tempos. Pronto para prosseguir. Pronto para a nova intensidade de cores que se misturarão no turbilhão da nova vida.

Pois agora não estou só.

Sentado aqui, vendo as outras pessoas viverem suas vidas eu paralisei, com medo de falhar, de ousar e de viver minha própria vida sem o peso da mascara que me protegia. Porque todos os dias (azuis, vermelhos, negros ou rosas) há uma guerra para lutar. E se eu ganho ou perco não me importa mais, contanto que você seja meu abrigo todas as noites.

Eu costumava chorar junto ao cheiro frio da parede, mas agora meus sorrisos não me dão tempo de morrer novamente.

Agora, eu tenho um verdadeiro motivo.

Jure-me que não irá embora....